quinta-feira, 28 de junho de 2012

“Na minha opinião, a política editorial de antes não existe mais” | Lorena Caliman

Alexandre Galvão, Carol Lemos, Lucas Gama


Foto: Arquivo pessoal



Lorena Caliman, ex faconiana e atual repórter da editoria de cidade do Correio*, em entrevista, fala sobre as estratégias de marketing do jornal, interesse público, interesse do público, a dinâmica na redação de um grande jornal e comenta sobre a tentativa de mudar a visão da audiência sobre a linha editorial do produto jornalístico. 


Na visão de vocês, o Correio concorre diretamente com qual outro jornal? 
Na minha visão, no momento, a concorrência direta é o “A Tarde” e o “Tribuna” também.


Podemos notar que, após a reestruturação do jornal, vocês tem seguido uma linha mais popular. Você concorda? 
Concordo. O jornal está mais popular do que popularesco, digamos assim. É bem informativo e o interesse é contar histórias, no caso. É um popular completamente diferente do Massa!.


Vocês têm um público alvo específico? 
No meu entendimento, o jornal tenta alcançar o máximo de pessoas de todas as classes. Tanto a pessoa de classe mais alta quanto a pessoa de classe mais baixa.


Há como chamar a atenção da classe “C” e “D” sem ser sensacionalista? De que forma o Correio* faz isso?
Sim, com certeza. Inclusive, esse é o propósito das matérias na editoria que eu trabalho, porque o interesse maior é prestar serviço de certa forma à população. Informar puxando pra uma coisa que seja interessante para as pessoas, que chame a sua atenção, mas sem ser sensacionalista. A gente evita isso.


A venda de cds junto com o jornal é uma clara jogada de marketing bem sucedida. O aumento da tiragem do jornal é um exemplo disso. Qual influencia disso dentro da redação do jornal?
Foram três edições, né? Dentro da redação o que muda? No dia anterior, o fechamento é mais cedo até porque o aumento da tiragem influencia no horário, a gente reestrutura os horários de cada um, todo mundo chega mais cedo. No dia seguinte, as três vezes que isso aconteceu, nós tivemos uma matéria tratando sobre a venda, pra repercutir sobre a venda do produto.


Essa medida seria uma tentativa de agregar mais público ao jornal?
Eu, Lorena, vejo isso. Mas de certa forma é um jeito de fidelizar o cliente. Um colega meu foi entrevistar o pessoal na rua na hora da venda e ele perguntou para um vendedor de jornal o que ele achava da venda de cds. Ele respondeu que era muito interessante, pois muita gente ia comprar o jornal nesse dia, pessoas que não são clientes do cotidiano, com interesse no cd, mas depois ela vai acabar lendo o jornal, é um momento de fidelização.


Interesse público ou interesse do público? Dentro do Correio, o que importa mais? E pra você enquanto jornalista, o que é mais relevante? 
Para o Correio*, até onde eu sei, o interesse público, importa mais, mas, também, puxando pelo interesse do público. Enquanto jornalista, o mais relevante é o interesse público mesmo. Sempre buscar os vários lados da notícia, sempre questionar. Se o governo, por exemplo, divulga uma informação, nós não vamos simplesmente dizer que ele divulgou; nós vamos, também, ver qual a opinião de pessoas envolvidas sobre isso. 


Antes da reformulação do Correio*, havia uma política editorial muito clara. Ainda hoje existe essa linha bem definida? 
Na minha opinião, a política editorial de antes não existe mais. A editoria de cidade é muito independente dessa coisa política, sabe? Eu não acompanho bem a produçãodas notícias de política, mas essa política editorial carlista não existe. Há uma tentativa muito grande de se desvincular disso, na verdade.


Às vezes na capa do Correio* tem uma manchete grande e quando abrimos o jornal no 24h o texto está reduzido. Por que isso acontece? 
Não é sempre, né? Muitas manchetes também são do Mais. Quando você abre o Mais, se a matéria está ali em destaque é por um motivo. Por exemplo, a história do assassinato do francês em Stella Maris foi pro 24h, pois não se tinha ainda muita informação, mas estava na capa porque chamava muito a atenção. Então, mesmo ela sendo uma nota de 24h, pelo fato de ter chamado tanto a atenção, ela foi uma manchete.


Como funciona a seleção de pautas no Correio dentro da editoria de Cidade?  
Tem aquelas coisas básicas sobre o que está acontecendo no dia e tem também as pautas que a gente faz semanalmente, uma programação de coisas que podem ser pauta. Isso para trazer uma manchete diferente sobre qualquer assunto, não tem uma pauta específica. Essa semana mesmo a gente falou sobre os assaltos a ônibus no São João. Acho que varia muito.


As notícias sobre Salvador estão sempre nas páginas do Mais e do 24h. Como é a decisão do que vai ficar no Mais e o que vai pro 24h? Qual o critério utilizado? 
O 24h é aquela coisa mais rápida. Ele abre com uma notícia local, depois tem Brasil, Variedades, etc. A página 3, abertura do 24h, em geral é sobre cidade, mas pode ser sobre qualquer coisa. O Mais, geralmente, é uma coisa que possa crescer. Uma passeata de professores, se for se limitar somente à passeata e não tiver nada mais, for mais factual, vai pro 24h. Agora, se for uma passeata que repercuta a união dos professores estaduais com os professores da Ufba, já é uma coisa maior. Se falar das reivindicações ou de novidades nas reivindicações, alguma novidade na proposta do governo, isso já é algo maior em que se possa explorar outros assuntos e que ganhe uma dimensão maior, aí vai pro Mais. 


Há alguma previsão de criação de uma caderno de política? 
Que eu saiba, não. Mas talvez agora com as eleições.


O Correio costuma dizer que estrutura suas notícias com base no new jouralism. Até que ponto isso influencia na hierarquização do texto? Como os critérios de noticiabilidade de cada notícia dialogam com esse tipo de texto? 
O propósito é contar história então o critério é sempre o diferente, o inesperado. Também tem essa coisa da escolha de um personagem para contextualizar e não deixar o texto ficar impessoal. A ideia é sempre trazer a história de alguém e onde o que aconteceu se encaixa e mexe com a vida da pessoa. Não é aquela coisa deslocada, não é um relatório do A Tarde, quanto a forma; você vê bem a diferença no esquema do texto.

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